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Bifakeal, um imbróglio numismático

A produção do falso com a intenção de enganar o colecionador - Neste "artigo", a fim de evitar a desnecessária prolixidade, nos limitaremos a postar a mais recente troca de mensagens entre a Bentes e a Casa da Moeda do Brasil, com o intuito de esclarecer, de forma definitiva, a polêmica sobre os artefatos bifaciais do Real, que como a maioria sabe, os consideramos imbróglios para enganar o colecionador. Ir além disso seria inócuo, pois não se prestaria a esclarecer de forma tão exauriente como os textos que se seguem:

De: Antunes & Bentes LDA, Bentes Edizioni Numismaiche, Bentes Group

Para: Casa da Moeda do Brasil


"Estimados senhores, boa tarde!


Na qualidade de editores do Catálogo Bentes de Moedas do Brasil, gentilmente solicitamos informações a respeito de como se dá a cunhagem de um mesmo disco do Real, com dois cunhos iguais (sejam de anverso ou de reverso). Ao que nos consta, o próprio sistema de segurança dessa prestigiosa instituição é à prova de "erros" grosseiros como o que acabamos de citar. Nesse sentido, nossos questionamentos são:


1) Como podem ser colocados, na máquina de cunhagem, dois cunhos exatamente iguais, de anverso ou de reverso?

2) A CMB produziu essas "peças" bifaciais do Real, a título de ensaio, prova ou teste de materiais? Nesse caso, se foram fabricadas "moedas" com duas faces iguais, como saíram de dentro da CMB e foram parar nas mãos de "colecionadores".


Nota: O problema maior que detectamos é a comercialização dessas "peças" por preços muito elevados. Alguns comerciantes chegam a pedir R$ 15.000,00 Reais por uma "bifacial" do Real. Ainda mais preocupante é o fato de que um comerciante, que goza de algum prestígio entre os colecionadores, tem expedido "certificados de autenticidade" (ver imagem em anexo) dessas peças, o que, em linha de máxima, atesta que foram fabricadas dentro da CMB.

Agora apareceu um certificado da moeda de 1 Real, beija-flor. (... see attached file ...).


Nota: Queremos apenas esclarecer, de uma vez por todas, o assunto. A nós interessa apenas a verdade dos fatos, mesmo que essa verdade contrarie nossa opinião sobre o que consideramos, até agora, artefatos produzidos fora da CMB, para enganar o colecionador.


Na certeza de uma resposta exauriente, nos despedimos com elevados protestos de estima e consideração.


Fernando Antunes

Amministratore delegato Bentes Group"




A RESPOSTA


De: Casa da Moeda do Brasil

Para: Antunes & Bentes LDA, Bentes Edizioni Numismaiche, Bentes Group


Prezado Sr. Fernando

Encaminho resposta das áreas responsáveis – Departamento de Moedas e Medalhas e Departamento de Matrizes e Projetos Artísticos.

Atenciosamente!


"Em resposta aos pleitos, emitidos pelos representantes do segmento numismático do Brasil, referente a existência de moedas de circulação, classificadas como “Bifacial”, ou seja, com dois lados idênticos, devemos considerar as premissas descritas abaixo, no âmbito desta CMB:

1) Toda moeda de circulação possui um anverso e reverso distintos, com suas respectivas artes incluindo a “Era” (ano de emissão) e os temas a que se propõe, logo, não seria lógico existir moedas com dois lados iguais. Partindo dessa afirmativa, esta CMB não produziu nenhuma moeda nessa condição, de nenhuma taxa, nem mesmo a título de teste;

2) O processo de fabricação de moedas, tratando especificamente das de circulação, seguem rigorosas etapas, desde sua concepção técnica e artística até a produção. Todas as etapas, incluindo o desenvolvimento das matérias primas (substratos), são controladas, tanto pelos responsáveis por cada etapa técnica, quanto dos responsáveis pelo controle da qualidade, nos laboratórios e no acompanhamento da qualidade propriamente dito. São fases normatizadas, com lotes em conformidade, com os percentuais definidos de acordo com a quantidade e quanto as características químicas/físicas ou metalográficas, cujos ensaios realizados, englobam etapas em sua maioria destrutivas. A partir da programação e da disponibilidade tanto da matéria prima (blanks/discos lisos) e das matrizes para cunhagem (cunhos), os testes de produção são realizados e seguem os mesmos protocolos burocráticos de controle, com os devidos registros em planilhas, acompanhados por profissionais especializados, oriundos do controle de qualidade, produção, técnicos e artísticos. O resultado de cada teste, por taxa, é comparado com o projeto idealizado, incluindo os parâmetros físicos, como altura dos relevos e dimensionais do produto (moeda). Aferidos todos os pontos, a moeda é apreciada pelos clientes, para avaliação e aprovação. Com o de acordo, a produção será programada posteriormente. Na fase do acompanhamento produtivo, sendo identificadas possíveis melhorias, ou mesmo alguma não conformidade, os procedimentos serão reavaliados e as alterações ou ajustes serão implementados e todo ciclo será repetido, até que o resultado se configure satisfatoriamente. Desta forma, fica evidenciado que não são realizados testes com moedas que se configurem fora do projeto técnico/artístico e, consequentemente, não seria o que resultou nas peças que estão em discussão;

3) Após aprovação e acordada a produção das moedas, junto aos clientes, a CMB promove a programação. Todo processo será realizado através do autocontrole, praticado pelos operadores, cujos resultados são registrados em controles específicos, a partir da configuração realizada nos equipamentos (prensas de cunhagem), conforme o tipo de substrato (blank/disco liso) e das características da arte a ser reproduzida. Um conjunto de peças de alta precisão, denominada de ferramental de cunhagem, forma um complexo sistema, que atua em completo sincronismo para reprodução das moedas. A velocidade de cunhagem pode variar de 600 a 700 golpes por minuto e vai depender do tipo de produto a ser obtido. Dentro deste sistema são posicionados o par de cunhos (anverso/reverso), alinhados frontalmente em um eixo longitudinal, para permitir o perfeito golpe (cunhagem). Cabe destacar que os cunhos (anverso e reverso) são codificados, individualmente, para controle de rastreamento e operacional, guardados em cofre. Suas requisições são conferidas, impedindo assim que o operador retire dois cunhos repetidos, ou seja, 2 anversos ou 2 reversos. Somente os operadores autorizados podem realizar a referida retirada e, obrigatoriamente, no caso de uma substituição, o par de cunhos a ser substituído deverá ser devolvido ao cofre, evitando assim qualquer possibilidade de utilização de cunhos semelhantes. De forma sistêmica, o controle de qualidade, acompanha e afere os resultados, através de amostragens, de acordo com o fluxo produtivo. Desta forma, a possibilidade de se cunhar peças com um tipo de não conformidade tão evidente seria remota;

4) Uma produção com intenções ilícitas não se justifica nesta CMB, primeiro por todo aparato de controle e pelas premissas de segurança e credibilidade da imagem da empresa. Outro aspecto, mesmo que hipotético, seria o altíssimo risco envolvido para que algum funcionário, quisesse obter algum benefício, cujo resultado seria pífio. É primordial ratificar que esta CMB repudia completamente qualquer atitude irregular de seus funcionários, pois primamos pela segurança e qualidade dos nossos produtos e processos e pela idoneidade dos nossos profissionais, mas, caso houvesse algum desvio de conduta, esta seria prontamente identificada e tratada dentro das diretrizes legais do regimento interno de conduta e, de acordo com a gravidade da situação, com o rigor da lei e com a intervenção de agentes policiais;

5) As moedas finalizadas e consideradas aprovadas, são posteriormente encaminhadas para embalagem, dentro do próprio setor de cunhagem. Seguem primeiramente para o acondicionamento em sachês lacrados, em quantidades menores e pré-definidas, identificadas por taxa. Em seguida os sachês, armazenados em sacolões, são conduzidos por meio de uma esteira para serem encaixotados. Essas caixas, processadas por sistema de robótica, são contadas e armazenadas em pallets. Os pallets, com as caixas empilhadas e devidamente embalados, são rotulados para identificação do respectivo lote e são disponibilizados para armazenamento nos cofres internos do setor produtivo, onde a fiscalização registra e controla todos os lotes, que só seguem para entrega, conforme a programação e devidamente acompanhada pelos responsáveis do BACEN e da CMB. A partir deste ponto, o produto estará entregue ao cliente;

6) Todo esse descritivo resumido tem por objetivo demonstrar o processo de fabricação de moedas de circulação, desde sua concepção, desenvolvimento da matéria prima, matrizeiro, produção, controles de qualidade, fiscalização, segurança e logística. Todo e qualquer tipo de processo tem uma tolerância, seja para fins de aferição dimensional ou de controle. Neste caso, o range de variação, permitiria que ocorressem “falhas” e seriam aceitáveis, sem impactar no resultado, por isso são normatizadas. Mas no caso de um bem que agregue valor de imagem, principalmente no que tange a soberania nacional, os controles precisam ser mais rigorosos e, por todo esse apanhado, ratificamos que não temos em nossos registros ou em relatórios do Controle de Qualidade a referida não conformidade, denominada “duplicidade do gravado”. Conforme controles da CMB, inexistem informações que remontem alguma ocorrência de produção de moedas cunhadas com lados em duplicidade, ou como o nome dado pelo segmento numismático: Moeda ”Bifacial”;

7) Nessa breve e resumida explanação, tivemos como objetivo responder de forma satisfatória aos pleitos que nos foi encaminhado referente a cunhagem de moedas “Bifaciais” e, também atender a um ponto específico de alguns questionamentos, quanto ao esclarecimento do processo de produção e dos controles de uma forma geral, atendendo então a uma dessas premissas. Para finalizar, é importante reforçar que a CMB, assim como outras casas de moeda de todo mundo, trabalha rotineiramente no desenvolvimento de potenciais elementos de segurança, novas tecnologias e recursos para mitigar ataques de falsificadores, que atuam em paralelo para obter resultados ilícitos. Temos um setor dedicado a análises forenses e laboratórios que atuam em diversos segmentos de análises, químicas, físicas e metalográficas, para realizar a chamada engenharia reversa, onde um produto é “desmontado”, para identificação ponto a ponto de suas características específicas. Todo esse aparato busca garantir um produto com níveis de segurança que possam ser identificados e rastreados, mesmo que para uma ratificação final, seja necessário que o produto em questão, tenha que ser avaliado no que chamamos de terceiro nível de segurança, o que remete as análises em laboratório, mas que infelizmente são destrutivas, por exigirem que as características a serem analisadas, sejam submetidas a agentes químicos ou outros que destruam o referido objeto.

Este descritivo, foi elaborado com o objetivo de ser explicativo de forma resumida, mesmo sendo repetitivo para alguns numismatas, mas atenderá de uma forma geral a maioria das dúvidas do processo e ao ponto principal do assunto em foco.

Sem mais, esperamos ter podido esclarecer as dúvidas, reiterando que a CMB não produziu moedas com faces repetidas, em seu processo produtivo.

Att,

Fernando Dias Moreira

Eng.º Mecânico – SEPPM/DEMAT”

Atenciosamente,










Concluindo: Da nossa parte, damos o assunto por encerrado.

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